quinta-feira, 19 de junho de 2008

SINFONIA


Mãos de pianista.
Encontraram no corpo dela as suas teclas.
Apanharam-na.
Afinaram as suas notas.
Tiveram a paciência de um imortal.
A certeza de um proprietário.
O tempo de todo o mundo.
Tencionaram cordas – e ela converteu-se num brinquedo espontâneo.
Tangendo sempre...
Flamenco nos seios.
Jazz no ventre.
Entre as pernas, um choradinho de arrancar lágrimas.
O bojo dos seus quadris apoiado sobre a coxa firme da pianista.
A mão esquerda conduzindo o seu braço numa valsa descabida.
A destra hábil gravou na sua medula a letra daquela canção.
Fez ecoar a voz da amada no recinto outrora vazio da alma da amante.
Ela contorceu-se, inclinou-se, gata em momento de preguiça, quatro patas, traseiro alto em alegre submissão.
A boca dela cantarolou no seu sexo.
Lábios com lábios.
E todas as janelas do seu corpo se abriram, se escancararam, berrando um convite.
Latejando.
Humedecendo.
Ela escolheu uma entrada.
A doce porta proibida.
Tocou de leve os glúteos fortes.
Cor de trigo.
Páginas sofisticadas.
Abriu-as.
O miolo de tal livro era algo para conhecer.
Ela regia uma sinfonia suave, morosa.
Primeiro os violinos.
Meigos, furtando suspiros precoces.
E a porta antes trancada foi cedendo devagar.
Então, os oboés. Os violoncelos. Os clarinetes. A divina cacofonia.
A amante avançou.
Tateou.
Dedos cegos mas espertos logo acharam o seu posto na orquestra.
Aninharam-se na alcova alagada de um órgão em flor.
Dedilharam...
Um, dois, três. Um, dois, três.
Encontraram o ritmo.
Sem pressa, ela a embalou.
Indo e vindo.
Afundando sempre.
Ela como um maestro conduziu.
A diva cantou. Prazer agudo. Palpitante.
Infringir a regra e jamais contar a ninguém.
Despejar o conteúdo de todas as gavetas.
Rasgar as páginas de todos os diários.
Falar de amor carnal e visceral em todos os altares.
Preencher com gozo divino todos os buracos mundanos.
Meter o pecado virtude adentro.
Entrar e sair do paraíso roçando o inferno.
Roçando o fogo.
A voz dela rivalizou com as de todos os castrati.
Ah! Foi uma longa sinfonia.

AUTORA: TESS
p.s. Publicada por DUCA em 03/03/08; As minhas desculpas mas tive de fazer Copy and Paste.

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