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sexta-feira, 8 de fevereiro de 2013





Magoa-me a saudade
do sobressalto dos corpos
ferindo-se de ternura
dói-me a distante lembrança
do teu vestido
caindo aos nossos pés

Magoa-me a saudade
do tempo em que te habitava
como o sal ocupa o mar
como a luz recolhendo-se
nas pupilas desatentas

Seja eu de novo a tua sombra, teu desejo,
tua noite sem remédio
tua virtude, tua carência
eu
que longe de ti sou fraco
eu
que já fui água, seiva vegetal
sou agora gota trêmula, raiz exposta

Traz
de novo, meu amor,
a transparência da água
dá ocupação à minha ternura vazia
mergulha os teus dedos
no feitiço do meu peito
e espanta na gruta funda de mim
que atormentam o meu sono.


quinta-feira, 21 de junho de 2012





Aproxima o teu coração
e inclina o teu sangue
para que eu recolha
os teus inacessíveis frutos
para que prove da tua água
e repouse na tua fronte
Debruça o teu rosto
sobre a terra sem vestígio
prepara o teu ventre
para a anunciada visita
até que nos lábios humedeça
a primeira palavra do teu corpo


quarta-feira, 30 de maio de 2012




Não é de amor que careço.

Sofro apenas
da memória de ter amado.



O que mais de mói,
porém,
é a condenação
de um verbo sem futuro.



Amar.


Amar.


Amar.



quarta-feira, 23 de dezembro de 2009

L



Entre o desejo de ser
e o receio de parecer
o tormento da hora cindida.

Na desordem do sangue
a aventura de sermos nós
restitui-nos ao ser
que fazemos de conta que somos.